sexta-feira, junho 29

ciclo vicioso

Não consigo deixar de pensar na efemeridade das relações que estabelecemos com as pessoas. O facto das pessoas nos usarem sem sequer darmos conta, pensando que precisam de nós e com a certeza de que quando a angústia nos bater à porta elas serão as primeiras a chegarem segundos depois e a expulsá-la de nossa casa como que dizendo “não, não és bem-vinda aqui. Sai e não faças mais estragos.”
Mas é tudo uma ilusão, deixamos de ser uma prioridade para sermos um plano B que depois para C e depois para D… e depois? 

Depois já nem se lembram onde moramos, mesmo que sejamos o vizinho que ouve as horas a que chegam a casa e as horas que saem porque a porta continua a fazer aquele ranger irritante. E nesses intervalos lembramo-nos daquilo que existia na nossa rotina, aquela pessoa todos os dias estava na nossa agenda pessoal e que nós que a tomávamos como certa, desaparece. Sem dar uma justificação nem um olá forçado que nos fizesse perceber que já não temos a relação que tínhamos nem o carinho que partilhávamos. Deixa de bater à porta. Nem para pedir uma cebola ou dois ovos, prefere encomendar uma pizza.
Somos cartuchos de foguetes que depois de explodirem no ar e nos colocarem em euforia se apagam no ar, mesmo por cima de nós. Somos cigarros que se acendem com toda a ansiedade momentânea e que depois de nos aliviarem apagamos e colocamos no cinzeiro. E esse cinzeiro depois de cheio é trocado, assim como o cigarro: acende-se um novo, amamo-lo pelo que nos está a fazer sentir mas depois lá está… o ciclo vicioso continua.


até já, 
rodolfo freitas

2 comentários:

  1. Assusta-me a facilidade com que nos esquecemos da voz , dos gestos e dos pormenores.
    Assusta-me a despreocupação, a indiferença e o silêncio.
    Assusta-me a facilidade com que deixamos de amar a quem um dia prometemos
    o mundo.
    Banalizam-se sentimentos e ninguém se importa com ninguém (infelizmente)

    Por isso a solidão não é estar sozinho mas sim
    sentir-se sozinho mesmo rodeado de pessoas.

    Gostei do teu texto e já vi esse"filme" nos
    tempos , agora já não me "enganam" facilmente.

    Beijo:))

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  2. "(...)Somos cigarros que se acendem com toda a ansiedade momentânea e que depois de nos aliviarem apagamos e colocamos no cinzeiro(...)", que frase tão boa ((: *

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