não encontro maneiras, nem termos perfeitos para tentar descrever aquilo que neste momento sinto e muito menos para vos tentar explicar a minha vida, como ela está.
hoje fui devorado pelo poderoso e invencível mar, rodeado de água, pisando apenas aquela areia, uma areia que insistia em cortar meus pés como que se tivessem a tentar dizer-me algo que ainda não compreendi o quê, água que escorrega por meu corpo sem mais, abundantemente. mais, mais e mais. água que me envolvia como se quisesse dizer estás protegido, vai. e fui, avancei sem mais no infinito deste mar, apenas com um rumo: nada. simplesmente e literalmente nada. não quero planear mais, ter rumos, lutar por uma bandeira que fica sempre à vista mas que nunca toco, lutar por uma bandeira que me obriga a passar mil batalhas. por mil derrotas e nenhuma vitória. decidi ir onde o mar me chamou, decidi não ter rumo nem razões para lutar. decidi apenas.
mas a vida não é uma praia, e o meu leme tem de ter uma direcção porque, caso contrário, acabarei naquelas rochas, das quais sempre fugi.
enrolado em mil ondas, eu estava. ventos profundos e inquietos insistiam em voar contra minha pele, insistiam em perseguir-me e sem mais desaparecerem, sem dizerem o que levaram de mim ou que me deixaram. areia, maior e melhor chão para pisar, se por momentos fracassamos na nossa caminhada o nosso pé enterrasse como os nossos sentimentos, como a nossa vida. areia tu que insistes em vir comigo, traz-me aquele grão de areia, traz contigo aquele desejado e escondido grão de areia que trará aquilo que eu sempre segredei ao mar mas que permanece flutuando nas suas imensas águas, na sua profundeza ou quem sabe já afogado e sem vida no seu fundo.

- Até um dia.